Simpósio Internacional: Por uma Agência Brasileira da Cannabis Medicinal (2010)
Este simpósio é a continuidade de uma luta de muitos, muitos anos. Assim, em 1995 quando chefiava a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária/Ministério da Saúde, com o estimulo do Professor Adib D. Jatene, então Ministro da Saúde, e Dr. Luiz Mathias Flack, Presidente do Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN) do Ministério da Justiça, organizamos um simpósio em Brasília com o título “Tetrahidrocanabinol (THC) Como Medicamento?”. A ideia então era estudar a possibilidade de ser introduzido no Brasil um medicamento, à base de Δ9 tetrahidrocanabinol sintético, comercializado no E.U.A e utilizado com sucesso para combater a náusea e vômitos induzidos pela quimioterapia do câncer. O fracasso foi total! “O Brasil não deveria aprovar o Δ9 THC devido às suas propriedades maléficas e por não haver comprovação científica de seu efeito terapêutico”. Estranha opinião medica, defendida fervorosamente por um médico oncologista, embora já naquela época existissem bons estudos comprovando este efeito terapêutico. Quase dez anos depois, em 2004, diante do enorme progresso nas pesquisas cientificas demonstrando um sistema canabinoide no cérebro de mamíferos inclusive no do homem, com receptores próprios e seus agonistas endógenos (exemplo, a anandamida), foi feita uma segunda tentativa.
O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID (do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP), que era dirigido por mim, organizou um Simpósio Internacional denominado “Simpósio Cannabis sativa L. e Substâncias Canabinóides em Medicina” com um novo enfoque: descrever os progressos científicos, procurando anular o preconceito (até hoje existente) de ser a maconha erva maldita. O Simpósio propunha então que a Cannabis sativa L. deveria ser retirada da lista IV da Convenção Única de Narcóticos – 1961 – OMS (Organização Mundial da Saúde) que a considerava como droga particularmente perigosa, juntamente com a heroína; um absurdo total. A proposta foi aprovada e como resultado o CONAD (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas) fez a solicitação oficial à ONU para que o pedido do Governo Brasileiro fosse apresentado à Assembléia Geral das Nações Unidas. Com certeza, esta decisão oficial do nosso governo serviria para diminuir o preconceito que cerca a Cannabis sativa L.
Estamos agora, em 2010, vivenciando este terceiro Simpósio organizado por nós, através do CEBRID com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) da UNIFESP. De 2004 até o presente o progresso sobre o sistema canabinoide e sobre a planta foi enorme, trazendo à luz muito mais conhecimento sobre um sistema de neurotransmissão até então quase que totalmente desconhecido. As pesquisas básicas e clinicas sobre os efeitos terapêuticos dos fitocanabinoides estão despertando novas esperanças em muitos pacientes sofredores de patologias diversas. Como consequência, pelo menos quatro medicamentos à base de maconha e dos seus derivados já foram aprovados pelas autoridades de saúde de vários países e estão sendo prescritos por médicos e dispensados em farmácias: Bedrocan®, da Holanda (folhas e inflorescências da planta), Marinol®, dos EUA (Δ9 THC sintético), Cesamet®, do Canadá (a base de Nabilone, um canabinoide sintético) e Sativex®, da Inglaterra (um extrato da maconha administrado sob forma de spray bucal). Esperamos muita participação, calorosas discussões e acima de tudo que um conhecimento sem preconceitos ou ideologias possa dominar os nossos trabalhos.
E. A. Carlini
Presidente do Simpósio